quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Monster Bus - Um heavy metal from Goiânia.

Rock antropológico

Guitarrista Moyz e baterista/vocalista Waller, na Praça da Bíblia.

“Oi, oi, oi, oito pilhas um real”, na voz não de um vendedor de mercadorias, desses que circulam nos ônibus, mas de um cantor de heavy metal. É com trechos peculiares como este, entre tantos outros, que o videoclipe Monster Bus – Um heavy metal sobre o Eixão ganhou os internautas: cerca de 14 mil visitas, mais de mil apenas no quarto dia de postagem no YouTube.

O sucesso surpreendeu até os idealizadores, Waller Chaves, 37, que, com parceria dos amigos Ivanoel Mendes, Cézanne e Moyz, produziu música, letra e vídeo. Eles até pensaram em comercializar a gravação, no formato de DVD single (à venda na Livraria Opção Cultural por R$ 7), mas foi na internet que o clipe caiu nas graças do povo.

Ao som de heavy metal, um narrador observador conta, aliás, canta, toda a trajetória do ônibus mais popular da cidade, o Metrobus, apelidado no clipe de monster bus (ou ônibus monstro). Saindo do terminal Novo Mundo até Padre Pelágio, a música trata, em tom de sátira e humor, a viagem por toda Avenida Anhangüera, se deparando com os mais variados tipos de passageiros.

O vídeo acompanha bem o ritmo do caminho, plataforma a plataforma. Nas primeiras cenas, onde o sol nasce, é filmado o Terminal Novo Mundo, seguindo viagem até o dia escurecer e mostrar a volta dos trabalhadores para casa, chegando ao Padre Pelágio. A escolha dos pontos de partida e chegada foi proposital. “A última parada, filmada apenas na noite, representa um lugar mais pesado; ali perto há a zona de prostituição no Dergo”, conta o criador.

Documentário
A saga começou em 2004, quando Waller, que também trabalha como procurador nacional da Fazenda e professor de Direito da UFG, pensou em filmar um documentário sobre o transporte coletivo mais acessível da Capital, já que na época a passagem custava R$ 0,45 (hoje é R$ 1).

Durante muito tempo, ele ficou sem andar e prestar atenção na avenida. No mesmo ano, ao visitar um amigo residente nas proximidades do Terminal Novo Mundo, levou um susto. “Me surpreendi com a grandiosidade do sistema e o enorme contingente de pessoas. Um ônibus sai a cada minuto e mesmo assim há uma grande demanda de passageiros”, diz.

Ele conta que se sentiu motivado pela surpresa. “Goiânia, minha cidade natal, não era mais a mesma que conheci nas décadas de 70 e 80. A cidade, antes com cara de interior, havia se tornado uma metrópole”, conta. Ao perceber isso, ele sentiu necessidade de documentar algo sobre a “espinha dorsal do transporte da massa”, transporte popular, que rasga a cidade de leste a oeste e que simboliza a transformação.

Início visual
De documentário a videoclipe foram necessários alguns passos. Com um amontoado prévio de imagens, Waller resolveu colocar ao fundo uma música de heavy metal da banda americana Metallica e gostou da combinação. Filosofando mais sobre a junção do rock com as imagens, o documentarista amador percebeu que o “Eixão” tinha tudo a ver com o ritmo, tanto pela tradução literal – já que o ônibus também pode ser considerado um conjunto pesado de metal – quanto pela agressividade do sistema e pela sonoridade barulhenta do ronco dos motores. “É a quintessência do heavy metal. O Eixo é tenso, pesado, violento”, explica.

O “Eixão”, ainda segundo Waller, “parece um monstro com vida própria, um organismo vivo, pronto a engolir e regurgitar as pessoas em sua sanha de garantir o funcionamento da cidade”. Daí o motivo de batizar o clipe de Monster Bus.

Letra e melodia
O casamento de imagem e som deu certo, mas ainda faltava algo, já que a letra do Metallica não condizia com a realidade do transporte. Deu-se início então à composição de uma nova letra, que, apesar de Waller não reconhecer, por muitos trechos há um tom satírico.

Sobre uma suposta letra preconceituosa, já que há trechos que falam de passageiros sentenciados, vagabundos ou que ainda cheiram à cachaça e suor, Waller explicou que não enxerga dessa forma. “É inevitável encontrar uma variedade de pessoas, pela popularidade do transporte. Preconceito é fingir que não existe essa rapa da sociedade.”

Tipos de passageiros à parte, tons humorado e irônico dão graça ao vídeo. No entanto, Waller conta que o intuito da gravação não foi exatamente esse. “Apenas colocamos na letra aquilo que presenciamos. O extraordinário é ordinário no universo do Eixo.”

O advogado, que passou a utilizar sempre o Eixo, mesmo após as gravações, acredita que o transporte seja extremamente útil, no entanto, desagradável. “Infelizmente, apesar da praticidade, andar no Eixão pode ser incômodo algumas vezes.” Provavelmente por isso, quem é passageiro freqüente do ônibus mais famoso de Goiânia se enxergou nas situações apresentadas no vídeo.

Difícil alguém que utiliza o transporte não ter vivenciado alguma história no mínimo interessante, para não falar bizarra, de coisas que só acontecem por ali. Internautas e passageiros se identificaram com o vídeo, consagrado como o mais novo hit goiano da net. O sucesso foi tanto que Waller agora pensa em mais. “Estamos com outros projetos de clipe”, planeja.

Reportagem: Lilian Cury, Foto: Renato Conde.
Fonte: Diário da Manhã



Monster Bus
Letra: Waller e Cézane
Música: Moyz, Waller e Cézane

Embarque conosco na fuligem, na fumaça
14 mil metros n’Avenida Anhanguera
Espinha dorsal do transporte de massa
Suor, CC, cheiro de cachaça

40 por hora, muita gente do Entorno
Canedo, Setor Pedro, que bus escroto
Pessoas do Centro, de Campinas, Santo Hilário
Palmito, Palmares, Tremendão, Rodoviário

Riding on that Monster Bus
Trapped inside that Monster Bus

A linha começa no curral do Novo Mundo
Mulheres gostosas, crianças, vagabundos
Na Praça da Bíblia, pedintes, ambulantes
Pastores, fiéis, idosos, estudantes

No Bandeirantes, cruzamento com a Goiás
Divisa leste-oeste, hippies, marginais
Polícia, camelôs, tranqueira digital
Oi oi oi, oito pilhas um real

Riding on that Monster Bus
Grinded by that Monster Bus

O ônibus tá cheio, um cara estranho do lado
Sujeito suspeito, tipo de sentenciado
Egresso do Cepaigo, presídio Guimarães
Saiu indultado, foi no dia das mães

De frente ao Jóquei, perto do HGG
Estação Lago das Rosas, é o verde o que se vê
Teatro Inacabado, destino Praça A
“Levanta malandro, deixa a velha se sentar!”

(solo)

Castelo, 24, varejo e atacado
Tudo para o campo, secos e molhados
Travecos aloprados, transbordo DERGO
Depois do Capuava, o fim da linha tá bem perto!

Riding on that Monster Bus
Trapped inside that Monster Bus
Fucked up by that Monster Bus

Padre Pelágio at last, monster bus coming down
I live too far from here, beyond the edge of town
Someday I’ll get a car, a promise to myself
So I can have command and freedom from this hell



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Segue outros vídeos da banda: Monster Bus. Um heavy metal from Goiânia. Problemas da cidade, violência, agressividade. Poesia urbana em português e inglês. Som pesado, videos caseiros.















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